17/11/2001 - O GLOBO - Segundo Caderno - Jaime Baggio - Em busca do cinema popular brasileiro.

A maior bilheteria do ano é um filme nacional, e o desafio é fazer a exceção virar regra.

Não teve para ogro digital nem para macacos extraterrestres. Em 2001, pela primeira vez em mais de uma década, um filme brasileiro fechará o ano como o campeão de bilheteria nos cinemas do país. Faltando pouco mais de seis semanas para 2002, o total de 2.391.257 pessoas que saíram de casa para ver “Xuxa Popstar” não pode mais ser alcançado, mesmo levando-se em conta que até 31 de dezembro ainda entrarão em cartaz papa-ingressos em potencial como “Harry Potter e a Pedra Filosofal” e “O Senhor dos Anéis”, para não falar no próximo produto da grife Xuxa, “Duendes”. Contudo, se “Popstar” é o número um da lista dos dez mais, é também o único filme brasileiro nela.

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Fazendo boa carreira em multiplex e cinemas de shopping center (público de 235.156 pessoas até o último domingo, com potencial para chegar à marca dos 400 mil), “O Xangô de Baker Street” é um raro filme-pipoca brasileiro assumido. O diretor Miguel Faria Jr. foi contratado para o projeto, desenvolvido desde o início pelo produtor Bruno Stroppiana. - É um produto mesmo. Acho que nunca se assumiu isso no Brasil dessa forma, sem desculpa velada - diz Bruno, que aposta no aumento do volume de produção a partir do início da atuação da Agência Nacional de Cinema, mas também aponta a necessidade de uma mudança de mentalidade. - Não pode mais haver aquela carga de sempre querer discutir o papel do cinema. Tem gêneros pouco explorados.

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Trabalhando há mais de dez anos junto à indústria cinematográfica americana, onde o filme-de-produtor é padrão, Bruno Barreto convive de perto com os problemas de uma realidade oposta, mas ainda assim aponta a necessidade do cinema brasileiro de caminhar naquela direção.

- É a diferença entre idéia e projeto. Idéia é algo mais individual, que surge da necessidade de contar determinada história. Projeto é mais abrangente, envolve a questão do “quem vai se interessar em ver isso?”. Lá existe mais projeto que idéia, filmes são feitos em cima da necessidade do mercado de preencher uma data. No Brasil, temos ótimas idéias, mas faltam bons projetos. Público existe para quase qualquer tipo de filme, mas você tem que saber para quem contar a sua história. Falta especialização, faltam roteirista e produtor.

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Se o investimento em filmes de gênero no Brasil parece incerto, a aposta em segmentos de público vem dando resultados. Os filmes da Xuxa já saem do papel com público-alvo definido, antes até do roteiro. O novo, “Duendes”, é claramente voltado para as crianças, provavelmente a faixa mais negligenciada. Prova disso é a surpreendente performance de “Tainá”, cuja estratégia de lançamento-nacional-aos-pouquinhos levou mais de 800 mil pessoas aos cinemas. Mesmo o mal lançado desenho animado “O Grilo Feliz” está entre os dez mais brasileiros, em sétimo lugar.

- O problema é que a produção comercial brasileira é ainda muito tímida - diz o diretor Ivan Cardoso, formatador do terrir com “O Segredo da Múmia” e “As Sete Vampiras”. - Transformaram o cinema em cultura quando o cinema é ainda a maior diversão. Cultura é um pé no saco, lembra televisão educativa.

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Bilheteria Nacional

- Xuxa Popstar: 2.391.257 espectadores (lançado em dezembro de 2000)
- A Partilha: 1.449.411 (junho de 2001)
- Tainá: 831.174 (dezembro de 2000)
- Bicho de Sete Cabeças: 397.945 (junho de 2001)
- Amores Possíveis: 397.945 (março de 2001)
- O Xangô de Baker Street: 235.156 (outubro de 2001)
- O Grilo Feliz: 202.489 (julho de 2001)
- Copacabana: 178.730 (julho de 2001)
- Memórias Póstumas: 177.324 (agosto de 2001)
- Um Anjo Trapalhão: 125.913 (dezembro de 2000)

Bilheteria Geral

- Xuxa Popstar: 2.391.257
- O Retorno da Múmia: 2.273.237 (maio de 2001)
- Planeta dos Macacos: 2.164.349 (agosto de 2001)
- Shrek: 2.053.363 (junho de 2001)
- Náufrago: 2.028.268 (janeiro de 2001)
- Do Que As Mulheres Gostam: 2.016.645 (março de 2001)
- Corpo Fechado: 1.892.094 (janeiro de 2001)
- Todo Mundo Em Pânico 2: 1.777.342 (setembro de 2001)
- Jurassic Park 3: 1.752.617 (julho de 2001)
- Pearl Harbor: 1.739.685 (junho de 2001)

Fonte: Informativo Filme B
OBS.: Números relativos até o último domingo (11/11/2001). Alguns filmes continuam em cartaz.

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