Prática
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Comunicação, Educação e Cidadania: o desafio contemporâneo da auto-sustentabilidade

 (2004, segundo semestre)


Angela de Faria Vieira


O desafio de aliar à criatividade humana sonhos de dignificação da pessoa e da coletividade com trabalho e qualidade de vida - concretização de uma cidadania indicadora de prosperidade e desenvolvimento social do país - está estreitamente relacionado à viabilização de ações estratégicas, planejadas e levadas a termo com gestão econômico-financeira concreta.

Operacionalizar um prisma de plenificação do cidadão brasileiro exige um olhar e um reposicionamento de atores sociais públicos e privados - e perfis organizacionais de empreendedorismo - estimando um amadurecimento da relação capital-trabalho de modo a incluir nas missões das empresas as visões de responsabilidade social: comprometimento e responsabilidade com a sociedade, factualmente.

Apoiar um horizonte inadiável de educação com comunicação reflexiva e continuada nos programas e projetos nacionais exige uma seletividade altamente qualitativa* na disposição analítica de iniciativas programáticas e de projetos, para dizer que urge focar e decidir com critérios de excelência, linhas de ação e trabalho em benefício da missão do desenvolvimento social brasileiro. (*redundância providencial).

Aqueles projetos capazes de imprimir marca de país, construindo e consolidando um prisma de humanidade que fundamente um sentir coletivo de pertencimento à nação, sem ufanismo, lembra um fato cuja tradição discursiva remonta a Haia - e ao nosso erudito representante Rui Barbosa - num brevíssimo e pontual revisitar histórico de um pacto civilizacional de paz e não beligerância que integra o patrimônio intelectual das nações e que ao longo do século XX traduziu-se em alianças, tratados e na própria Organização das Nações Unidas.

Ao contemplar eixos nevrálgicos da estrutura social como a educação para o trabalho, o incentivo à produção cultural, a socialização e a formação do usuário - atualizando a idéia de Estado-Nação, onde há compartilhamento de identidade humana e física no país; e, ainda, o desenvolvimento de políticas de incentivo e apoio permanente à auto-capacitação para o relacionamento gerador de conhecimento - chega-se, enfim, à inclusão do Brasil na contemporaneidade, sua mundialização como Sujeito/Estado capaz de ações históricas com competência gestora num mundo econômico e culturalmente globalizado, mediatizado por políticas de aproximação internacional e parcerias produtivas.

Num intróito reflexivo, dialetizar o pensar no presente ensaio leva-nos a perceber o que recai sobre o modo avaliador (quiçá “sentenciador”, pois que se constitui factualmente em um critério fortíssimo para obtenção de recursos nas agendas estratégicas das empresas que formulam políticas de responsabilidade social) - na real possibilidade de engendrar estratégias pragmáticas de apoio pela vertente dimensionadora da auto-sustentabilidade de um projeto: uma boa idéia precisa ancorar-se em diagnoses e prognoses de gestão de negócios com geração de renda para ter chances reais de obter verbas e apoio de modo a implementar seus sonhos de qualidade de vida e cidadania real, com iniciativas de trabalho em inúmeros recantos do país.

Em recente visita (06/10/2004) ao Departamento de Comunicação Institucional da Petrobras - Seção de Comunicação Nacional, no Rio de Janeiro - concretizou-se uma vivência de conhecimento empresarial, trabalho e busca de informação para ampliar horizontes de pesquisa e cosmovisão dos alunos do quarto período do Bacharelado de Comunicação Social/Relações Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que, comigo, cursam as disciplinas: "Comunicação Comunitária" e "Informação e Pesquisa em Comunicação".

Em uma manhã, passada junto a profissionais como Janete Ribeiro Mota (Economista/Fiscal de Projetos Sociais) desvelou-se - com profissionalismo e densidade reflexiva - o que poderíamos chamar "o mundo Petrobras", para uma juventude em formação que já foca de modo adulto as suas preocupações de inserção profissional no mercado de trabalho brasileiro.

Surgiram indagações de excelência investigativa que clarificaram caminhos possíveis para, multidisciplinarmente, pensar e atuar em comunicação - situando o futuro profissional de Relações Públicas no horizonte da cidadania a ser concretizada pelo tripé: educação-cultura-gestão de négocios para geração de renda no país.

O Brasil, país que avulta no cenário internacional (“competindo” por um espaço no Conselho de Segurança da ONU), é ainda alvo de cotejamento de princípios e ações entre os pares continentais na América Latina, com atenção à estatura do debate e a argumentação dos propósitos de país no Cenário Europeu... de cima (ou do cimo) do seu "Queen Mary nordestino" (alusão lúdica à uma concessão paradigmática às elites turístico-culturais, históricas na enunciação do "velho mundo" e sua bagagem de monarcas e governantes que nomeiam "os produtos" da competência industrial, hoje tecnológica; mas sem desfiguração da brasilidade entranhada nos regionalismos que nos justificam espacialmente como Pátria), conclama integração político-econômica e encontra parceiros para "um embarque de viagem de trabalho", e anuncia que não se dispõe a uma aventura a la Titanic, pois que se debruça sobre o passado, o presente e projeta um futuro "ecomiasticamente" exitoso na sua crença de engendrar este futuro... que já chegou no modo de conscientização da inteligência brasileira e na disposição da virada do século (no qual estamos)... talvez, com uma anima visceral, num inconsciente coletivo, de que 21 é, legalmente, tempo de emancipação!



Angela de Faria Vieira
Professora Adjunta da Faculdade de Comunicação Social da UERJ e líder do Grupo de Pesquisa (UERJ-CNPq) "METACOM - Mídia, Educação e Cultura".

Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e coordenadora do Programa de Memória em Comunicação da FCS/UERJ.

Conselheira da Editora da UERJ (Eduerj) e relatora do Grupo de Estudo "Normatização do Processo de Participação Política no Brasil" (92 p.) na Escola Superior de Guerra, Presidência da República, como representante da UERJ.

Mestre em Estudos Sociais Brasileiros: Filosofias e Políticas de Educação no Brasil (UERJ).

Bacharel em Educação pela UERJ.

Ensaísta e escritora sobre os temas Mídia, Televisão e Recepção Infanto-Juvenil, Iniciação Científica e Gestão do Conhecimento.

Contato: angelafvuerj@ig.com.br, angelafv@hotmail.com.

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