Teoria
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Todo cientista é um artista. E ambos, empreendedores.

 (2016, primeiro semestre)


Manoel Marcondes Machado Neto


Ou "Eco ecoa. Ecoará sempre". Ou, ainda, "Introduzindo o conceito de ‘antenação’."

Por Manoel Marcondes Machado Neto, relações-públicas, professor associado da UERJ, doutor pela USP, cofundador do Observatório da Comunicação Institucional (OCI).

"Pintar é como um jorro". Alberto Kaplan.

"If you can dream it you can do it". Andersen Viana.

"A minha música não é de levantar poeira, mas pode entrar no barracão". Tom Jobim.

Ao completar trinta anos de magistério, em agosto de 2015, e lidando com diferentes disciplinas, tais como Gestão de Projetos Culturais, Gestão de Organizações Não Governamentais, Introdução à Administração, Fundamentos de Marketing, Assessoria de Relações Públicas, Projetos de Pesquisa em Negócios e Comunicação para a Transparência, cheguei a uma única e singela conclusão: o impulso criativo do acadêmico em pouco ou nada difere do ímpeto, do jorro criador do artista e da gana do empreendedor.

Umberto Eco, em entrevista concedida ao Caderno ‘Mais’, da Folha de São Paulo, em 1993, disse algo que si non è vero, è bem trovato:

“Todas as pessoas têm uma única coisa a dizer. E fazem isso por toda a vida”.

O grande professor – que acabamos de perder para a eternidade – não admitia este pensamento como seu. Dizia que fora um seu professor dos tempos do ginásio o autor de tão enigmática expressão. Afinal, a frase soa como uma sentença, algo cheia de mistério e predestinação – nada menos científico para sair da boca de um dos mais influentes pensadores do nosso tempo. Fica mais palatável, pois, imaginá-la nas falas cansadas de um obscuro docente divagando à frente de colegiais enfadados no interior da Itália dos anos 1940.

Porém... e sempre há um porém... a expressão pode fazer muito sentido se analisarmos a vida de alguns expoentes da humanidade que passaram toda uma vida, toda uma trajetória, perseguindo um único objetivo. Erraticamente, às vezes. Obstinadamente, na grande maioria das vezes. E as falhas, que não conhecemos – milhares delas –, confirmam as poucas dezenas de histórias que vêm a público como legítimos sucessos do engenho humano.

O primeiro expoente – das Ciências – que me vem à cabeça é Charles Darwin. O segundo, o óbvio Albert Einstein. O terceiro – um brasileiro – Alberto Santos Dumont.

Das artes, cito Leonardo da Vinci, Pablo Picasso e, mais um ‘brazuca’ (mesmo que mezzo a mezzo italiano); Alberto Volpi.

Não vou mencionar os casos – mas os há, até em abundância – de personalidades que transitaram com êxito retumbante entre ambos os campos, das Ciências e das Artes, e que inspiraram Gilberto Gil em sua obra ‘Quanta’ – talvez ele mesmo alguém que poderíamos citar como um ‘híbrido’ das Ciências (administrativas, no caso, já que se graduou em marketing e muito bem conduziu os negócios de sua carreira) e das Artes (no campo da música, mais especificamente).

Criatividade, disciplina, perseverança, "antenação" e arrojo são características comuns a ambas as ‘categorias’ de seres humanos; tanto artistas quanto cientistas. E apresso-me a explicar o neologismo. Alguns prefeririam utilizar o termo "sintonia", mas sintonia pede um complementar objeto direto... sintonia com o quê? Outros prefeririam, talvez, "inspiração", mas Tom Jobim entre outros gênios, já desmistificaram a inspiração "celestial", colocando no lugar a (bastante) física transpiração necessária – e que já está contabilizada nos quesitos disciplina e perseverança.

"Antenação", pois, parece-me o termo adequado para aquele momento pre-insight.

É preciso estar "antenado" com o mundo exterior (o que também desfaz outra mística em torno do artista, a do ensimesmado cultor do "eu interior" que a tudo suplanta – tornando o artista uma espécie de ser impenetrável e voltado ao próprio umbigo).

Outra coisa: todo artista é um empreendedor nato... Sim, pois escrever poemas ou textos em prosa prenuncia o show da leitura ou da declamação, além do sonho com o suporte dos suportes: um livro!

E outra mais: descobriu-se que a música precedeu as pinturas rupestres como arte humana. Em milhares de anos. E o que será a composição rabiscada em pentagramas e guardada numa gaveta? Arte? Para o mesmo Umberto Eco, não. A tal partitura precisaria, para cumprir seu nobre papel de música, das inescapáveis execução e audição, unindo – num momento e lugar – artista e plateia; mesma condição das demais artes performáticas – da dança, do teatro, da ópera e do circo.

A obra de arte só se conclui quando fruída. Esta, aliás, a principal lição d’il professore Eco em seu – ótimo, necessário, insubstituível – “Obra aberta”.

Publicado em 12/03/2016, este texto quer homenagear os criadores-empreendedores geniais que, neste mês, nos deixaram; Keith Emerson (do grupo de rock progressivo Emerson, Lake & Palmer), George Martin (o "quinto Beatle") e Naná Vasconcelos (o homem que "inventou" e valorizou o que é ser "percussionista").



Manoel Marcondes Machado Neto
Professor associado e pesquisador lotado na Faculdade de Administração e Finanças da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Formado em Relações Públicas pelo Instituto de Psicologia e Comunicação Social da UERJ, especialista em Sistemas de Informação pelo CPE/Saint Charles (EUA), mestre em Comunicação pela ECO/UFRJ, e doutor em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Atualmente faz estágio de pós-doutoramento no Instituto de Arte e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense na linha de pesquisa “Cultura e Territorialidades”. É o autor dos livros "A transparência é a alma do negócio: o que os 4 Rs das relações públicas plenas podem fazer por você e sua organização" (Conceito Editorial, 2012), “Relações Públicas e Marketing: convergências entre Comunicação e Administração” (Ciência Moderna, 2016, 2a. edição), “4 Rs das Relações Públicas Plenas: proposta conceitual e prática para a transparência nos negócios” (Ciência Moderna, 2015), “Marketing Cultural: das práticas à teoria” (Ciência Moderna, 2005, 2a. edição), e co-autor dos livros “Marca: do marketing ao balanço financeiro” (EdUERJ, 2015), “100 Anos de relações públicas no Brasil: rumo à cidadania plena” (Conceito Editorial, 2014) e “Economia da Cultura: contribuições para a construção do campo e histórico da gestão de organizações culturais no Brasil” (Ciência Moderna, 2011). Foi secretário-geral do Conrerp1 (gestão 2010-2013). Ministra as disciplinas “Comunicação para a transparência”, no mestrado em Ciências Contábeis, e “Fundamentos de Marketing”, “Gestão de Projetos Culturais” e “Gestão de ONGs”, na graduação em Administração. É consultor, tendo pertencido aos quadros da Accenture por oito anos. Foi executivo em empresas públicas, privadas e do terceiro setor, e empreendeu negócios próprios nos campos da cultura e comunicação. É mentor do "Coletivo Umbrella - Comunicação Total" (www.coletivoumbrella.com.br), cofundador e atual diretor-presidente da sociedade educativa "Observatório da Comunicação Institucional". Além do portal O.C.I. (observatoriodacomunicacao.org.br), edita também os sites “Resumo das Relações Públicas Plenas” (www.rrpp.com.br), “Marketing & Cultura: comunhão de bens” (www.marketing-e-cultura.com.br) e “Powerbranding” (www.powerbranding.com.br) na internet.

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